CHILDS, Brevard. Biblical Theology of Old and New Testaments: Theological Reflection on the Christian Bible. 6 ed. Minneapolis, MN: Fortress Press, 1993. p. 768.
Esse livro constitui-se como a Magnus opus de Brevard Childs (1923 – 2007), o cume de uma longa trajetória de estudos e ensino sobre as Escrituras, como professor de Antigo Testamento em Yale.
Child advoga uma abordagem canônica dos estudos bíblicos, i.e., ele afirma que ambos os testamentos constituem uma única Bíblia. Com isso, temos não apenas uma atividade hermenêutica, mas também a recepção de várias tradições (livros) das Escrituras na comunidade de fé (igreja), que aceita esses livros como norma e cuja autoridade e significado está na própria literatura como um todo – todo este que testemunha sobre Deus (John Morrison, JETS, paper 52).
Nas duas primeiras seções (“Prolegomena” e “A Search for a New Approach”), Childs traça um panorama da Teologia Bíblica desde Gabler, mas também analisa os antigos teólogos como Irineu, Orígenes, Agostinho, Aquino, Lutero e Calvino. Essa pesquisa histórica prepara caminho para sua própria abordagem canônica. As duas “partes” da Bíblia (AT e NT) proclamam o testemunho sobre o mesmo assunto – Deus. O AT é o testemunho e Israel sobre Deus e o NT é o testemunho da igreja, mas ambos possuem uma unidade canônica.
Nos dois capítulos seguintes, Childs pesquisa a trajetória do desenvolvimento bíblico. Ele passa pelas seguintes unidades narrativas do AT: criação, do Éden à Babel, tradições patriarcais, tradições mosaicas, a posse de Canaã, a tradição dos juízes, o estabelecimento da monarquia, o reino dividido, exílio e restauração, tradição profética, sapiencial, apocalíptica e os Salmos (cap. 3: The discrete witness of the old testament). Então, ele analisa o NT na seguinte ordem: a proclamação mais antiga da igreja, o evangelho paulino, a formação dos evangelhos, os quatro evangelhos, o testemunho de Atos e a era pós-paulina (cap. 4: The discrete witness of the new testament). No capítulo 5, o professor de Yale nos oferece um exemplo exegético de cada testamento, aplicando seu método de crítica canônica (Gn. 22.1-19 e Mateus 21.33-46).
Passamos então para o coração do livro, que trata da “reflexão teológica sobre a Bíblia cristã” (cap. 6). Influenciado pelo pensamento Cristocêntrico de Karl Barth, e possivelmente pela abordagem Heilsgeschichte, Childs começa refletindo sobre a identidade de Deus e termino concluindo sobre a ética. O último capítulo é um chamado para lermos as Escrituras de forma holística, tanto o Antigo como o Novo Testamento.
Brevard Childs é declaradamente um teólogo cristão. Ele está comprometido com as Escrituras como sendo a regra de fé e prática da comunidade de fé no Messias Jesus. Para isso, ele afirma a forma final de todos os 66 documentos como autoritativos. Childs também nos lembra que as Escrituras não são auto referenciais, ou seja, não são um fim em si mesma. Ainda que ela se auto declare palavra inspirada de Deus, ambos os testamentos testemunham sobre Deus, que é o assunto principal e alvo do texto sagrado. Em sua hermenêutica canônica, ou leitura holística, Childs nos chama a seguirmos a trajetória revelacional do AT até o NT, bem como a ver o NT à luz do AT.
Childs parece fazer um movimento dialético entre a teologia liberal e a conservadora. Ele aceita várias hipóteses críticas que eu realmente critico. Childs pode, ao mesmo tempo, negar a veracidade de um evento narrado no AT e no mesmo fôlego afirmar que Deus agiu nesse evento. Com isso, ele pode criticar as partes da Bíblia ao mesmo tempo em que se compromete com o todo dela. Assim, dentro da tradição barthiana, Childs ainda é preso ao dilema da finitude da linguagem e da história humana. O texto das Escrituras – na linha de Hans Frei – finalmente se separa da sua veracidade histórica, enquanto o seu todo é “transcendentalizado”.
Childs é um dos teólogos mais influente do século XX e sua obra é indispensável para o estudante das Escrituras. Podemos discordar nesse ou naquele ponto, mas o leitor dessa obra encontrará pérolas que farão valer a pena a leitura dessas sete centenas de páginas. Especialmente seu método canônico, que enfatiza a unidade da revelação de Deus nas Escrituras, que é um remédio eficaz contra leituras reducionistas e atomísticas, leituras estas que a igreja do século XXi ainda insisti em fazer.
Bird, Michael F. The Saving Righteousness of God: Studies on Paul, Justification and the New Perspective. Paternoster Biblical Monographs. Milton Keynes, U.K.: Paternoster, 2007. Pp. xvii + 230.
O fardo do trabalho de Bird é buscar uma via media entre a NPP (Nova Perspectiva sobre Paulo) e a antiga interpretação reformada sobre a doutrina da justificação pela fé. M. Bird argumenta que a NPP está correta no que afirma mas errada naquilo que nega, ou seja, está correta ao apontar o aspecto horizontal da justificação e errada ao negar seu aspecto vertical.
Assim, o autor demonstra que a justificação tem um aspecto jurídico, mas também pactual, forense e participacionista, visto que ela se dá na união do crente com Cristo.
Bird mostra que a imputação da justiça de Cristo ao crente não tem uma base bíblica clara, e prefere falar do papel da ressurreição de Cristo na justificação (Rm. 4.25). O autor dialoga de forma eirenica com a NPP e inclui um excurso sobre N. T. Wright. Nesse excurso, Bird defende a ortodoxia de Wight como teólogo e bispo anglicano, contra preconceitos que podem ser gerados em meios mais conservadores quanto a obra desse polêmico autor.
Podemos resumir o argumento de Bird em seis pontos:
A justiça de Deus é sua ação salvadora executada na criação, exibida em Seu relacionamento com Seu povo pactual e revelada na fidelidade, morte e ressurreição de Cristo;
A Justificação não pode ser entendida desassociada da ressurreição de Jesus;
Nenhum texto afirma claramente que a justiça de Cristo é imputada ao crente. A imputação, no entanto, continua sendo útil como uma explicação teológica do mecanismo pelo qual a união com Cristo comunica justiça a quem crer;
A abordagem de Bird para com a NPP é dialógica e eirenica, ao mesmo tempo que o autor critica sua falhas, ele afirma seus pontos fortes;
Justificação em Paulo funciona em dois horizontes: verticalmente (soteriologia) e horizontalmente (sociologia e eclesiologia);
As boas obras são evidências e não instrumentos da justificação.
O leitor precisará julgar por si mesmo, ao ler essa obra, o quão bem sucedido o autor foi em sua síntese dessas visões “contrárias”, ou se Bird almejou um voo muito alto. O livro é recomendado especialmente para o lado reformado do debate, para humildemente aprendermos a ouvir o que de bom nossos adversários podem propor para aprimorar nossa exegese do texto Sagrado.
Westerholm, S. Justification Reconsidered: Rethinking a Pauline Theme. Grand Rapids, MI; Cambridge: William B. Eerdmans Publishing Company, 2013. 104 p.
Justificação reconsiderada é uma síntese de uma monografia maior, publicado pelo autor em 2004, intitulado “Perspectives Old and New on Paul: The ‘Lutheran’ Paul and His Critics”.
Esse livro é mais uma construção positiva da doutrina da justificação pela fé do que uma resposta crítica à Nova Perspectiva de Paulo. Assim, recomendo esse livro para todos que buscam uma introdução a essa doutrina tão importante da teologia de Paulo e da teologia cristã em geral.
Entretanto, obviamente, o autor tem em mente responder a NPP (especialmente Krister Stendahl, E.P. Sanders, J.D.G. Dunn e N.T. Wright). Segundo essa interpretação, o judaísmo do primeiro século não era uma religião legalista de “obras”, mas sim uma religião da Graça Divina. Portanto, a doutrina da justificação pela fé tinha outro alvo, a saber, não é uma doutrina que fala sobre como o pecador torna-se justo diante de Deus, mas sim como os gentios são admitidos no povo de Deus (não por observar leis judaicas como circuncisão, sábado e leis dietéticas, mas pela fé em Jesus o Messias).
O livro flui em uma prosa clara e muito útil. Cada um dos seis primeiros capítulos interage criticamente com um dos muitos proponentes da NPP.
O primeiro capítulo interage com a tese de Krister Stendahl que diz que nós ocidentais, impusemos muito de nossa consciência introspectiva (por causa de Lutero) nos textos paulinos. Assim sendo, a preocupação de Paulo é como incluir os gentios na igreja de Cristo ao invés de se preocupar como indivíduos pecadores se reconciliam com Deus. Westerholm responde que, se Stendahl estiver correto, muito material textual paulino não fará sentido algum, pois Paulo fala mais de pecado e salvação do que inclusão dos gentios.
O segundo capítulo dirige-se a E. P. Sanders, mostrando que o judaísmo do primeiro século não era tão orientado pela graça como Sanders desejava. O entendimento de Paulo sobre pecado e graça é muito mais radical e profundo do que o entendimento do judaísmo sobre esses temas.
O capítulo três interage com a tese de Heikki Räisänen de que Paulo simplesmente era incoerente em sua exposição da doutrina da justificação. Para Räisänen, as vezes Paulo fala que a justificação é fundamentada na graça somente, e outras vezes fundamentada na guarda da Lei. Westerholm chama para o debate alguns gigantes da teologia que são frequentemente negligenciados por eruditos do NT. Ao expor o pensamento de Agostinho, Lutero e Calvino, o autor demonstra que a culpa de não entender Paulo é de Räisänen e não deles.
O quarto capítulo reflete sobre N.T. Wright, especialmente sua obra de 2009: “Justification: God’s Plan and Paul’s Vision”. Wright argumenta que a justiça de Deus tem a ver com a aliança de Deus e não com valores morais. Westerholm mostra que o termo “justiça” refere-se sim ao aspecto judicial, forense. Portanto a cerne do evangelho é que Deus declara pecadores injustos como justos (legalmente; cf. Rm. 3.21-25).
O quinto capítulo trata sobre as obras da lei, interagindo com James Dunn. Para Dunn, “obras da lei” referem-se exclusivamente (nas obras antigas de Dunn) ou principalmente (nas obras recentes) àquelas obras que separavam os judeus dos gentios (circuncisão, sábado e leis dietéticas). Westerholm argumenta que Paulo não está tão preocupado com a “exclusividade” da lei, mas com sua incapacidade de gerar justiça e vida.
Finalmente, o capítulo seis lida com os ataques de Douglas Campbell contra a “teoria da justificação”. Campbell entende que essa doutrina faz Deus parecer frio, distante e malvado, enquanto ele propõe um deus mais benevolente. Westerholm expõe a falácia dessa velha dicotomia, mostrando que Deus é tanto justo como bom.
Esse livro é uma excelente porta de entrada no imenso debate sobre a NPP. O autor resiste a tentação de uma linguagem acadêmica, e ao longo do livro temos até uma piada para aliviar a tensão do debate. Não ficou claro o porquê de Westerholm trabalhar apenas com sete cartas paulinas (e não com as treze). Recomendo com entusiasmo a leitura desse livro.
Wright, N.T. New Testament and the People of God. Christians Origins and the Question of God 1. London: SPCK; Minneapolis: Fortress, 1992. Pp. xx + 535.
Esta massiva obra estabelece os fundamentos epistemológicos, literários e históricos para a série Christian Origins and the Question of God, um projeto de seis volumes do dr. N. T. Wright.
Wright inicia seu livro tratando de temas como hermenêutica e autoridade, argumentando que a teologia deve trabalhar juntamente com a história e a crítica literária (pp. 29-144). Entretanto, antes dessas questões, o autor reconhece que deve tratar sobre a epistemologia. Ele rejeita o positivismo ingênuo que aspira a objetividade pura e neutra, mas também rejeita a fenomenologia e seu subjetivismo. A via média de Wright é o realismo crítico. Essa epistemologia advoga que nossas observações iniciais devem ser desafiadas pela reflexão crítica, mas mesmo assim é possível compreender algo da realidade (por isso “realismo crítico”).
A análise literária de Wright encontra sua raiz na Narratologia de Greimas, que mapeia as sequências iniciais, sequências tópicas e sequências das histórias Bíblicas. Essa análise literária unida ao realismo crítico formam as chaves pelas qual Wright destranca as portas das cosmovisões, mentalidades, propósitos e intenções da antiguidade.
Wright rejeita as abordagens populares sobre a autoridade das Escrituras, rejeitando também o debate sobre o que das Escrituras é condicionado pela cultura e o que é “verdade universal”, visto que todo o Novo Testamento é “culturalmente condicionado” (p.20). A autoridade bíblica para Wright é mais como uma peça de Shakespeare sem muito do quinto ato. Assim, os atos 1 – 4 são: Criação, Queda, Israel e Jesus. O quinto ato deve ser interpretado em consistência com os quatro anteriores (cf. p.140).
O autor prossegue mapeando a cosmovisão do(s) judaísmo(s) do primeiro século, considerando seus símbolos: Templo, terra prometida, Torá e identidade racial (pp. 145-338). Essa cosmovisão é explicada nos termos das crenças judaicas sobre o monoteísmo criacional, eleição e escatologia – tudo em um contexto pactual. A inovação de Wright está no ponto de partida: Ele não começa analisando questões abstratas de verdades atemporais, mas situa sua abordagem na turbulência política da época.
A terceira parte trata sobre a cosmovisão do cristianismo primitivo (pp. 339-464). Minha crítica nessa seção está no lócus do problema da humanidade. Wright defende corretamente que todas as cosmovisões respondem a perguntas fundamentais como: Quem nós somos? Onde estamos? O que há de errado? E qual é a solução? O autor analisa as respostas dessas questões na cosmovisão judaica e cristã. O autor propõe que para o cristianismo primitivo, o “problema” maior do mundo é o diabo. No entanto, faria mais jus aos textos do NT identificarmos o problema central como sendo o pecado no coração humano, e o diabo como sendo parte do problema e não o núcleo dele.
Wright termina com uma provocação para os futuros volumes da série, com pequenas declarações sobre “O Novo Testamento e a questão de Deus”. Até agora temos quatro volumes: Esse sobre os fundamentos, o segundo que trata sobre o “Jesus histórico”, o terceiro analisa o tema da ressurreição de Jesus e o quarto volume que trata sobre a teologia de Paulo. Ainda aguardamos os volumes sobre os evangelhos, sobre a igreja primitiva e o último volume que irá sintetizar todos os outros.
Wright, N.T. The Climax of the Covenant: Christ and the Law in Pauline Theology. (Minneapolis: Fortress, 1993). 330 p.
N. T. Wright explora nesse livro algumas das principais passagens das cartas de Paulo, fazendo exegese detalhada dos textos que tratam sobre Cristo, a Lei de Moisés e a “teologia da aliança” do apóstolo, mostrando como esses temas se relacionam entre si.
A primeira seção do livro trata sobre a Cristologia Paulina. Wright analisa textos como 1 Coríntios 15, Romanos 5, Filemom 6, Filipenses 2, Colossenses 1 e 1 Coríntios 8. Em sua análise do “Jesus histórico” na obra “Jesus and the Victory of God”, Wright nega que Cristo tinha uma consciência clara de sua Divindade. Na presente obra, entretanto, o autor afirma uma “alta Cristologia”, principalmente ao perceber a alusão da Shema de Dt. 6.4 trabalhada em 1Co. 8, passagem clara que afirma a Divindade de Jesus junto com Deus Pai nos moldes do monoteísmo judaico.
A segunda seção aborda o tema da Lei em Gálatas 3, 2 Coríntios 3, e Romanos 7-8. Sua análise de Romanos 7 em particular consegue ser brilhante e não convincente. Brilhante ao apontar dez paralelos entre Caim e o “eu” retórico de Rm. 7. Não convincente ao negar que morremos para a Lei quando o texto afirma isso claramente.
O clímax do livro é o capítulo que analisa Romanos 9-11 seção por seção, construído sobre sua análise anterior de Rm. 7-8. Wright argumenta que a obra de Cristo trouxe um fim para a Lei (Torá), ou seja, Cristo é o cumprimento da Lei (Rm. 10.4).
Para Wright, o povo de Israel – a família de Abraão – é a verdadeira humanidade. A sua terra é a terra de Deus. Seus inimigos são os inimigos de Deus. Esses inimigos serão sujeitos à Israel assim como os animais eram sujeitos a Adão.
O autor entende que o conceito de Lei para Paulo não é uma abstração, mas a própria Torá. Ler as polêmicas de Paulo em Gálatas e Romanos por exemplo, como sendo contra a Torá e não contra algum princípio ou aspecto dessa Lei é significativo. Assim, a torá foi dada para dar vida ao povo, mas por causa do pecado, trouxe apenas condenação. Mas até mesmo isso foi um ato gracioso de Deus, pois Ele pôde reunir a maldade em um só lugar (Israel) para lidar com isso. Tendo o pecado sido concentrado em Israel por causa da Lei, esse povo foi chamado para morrer (e ressuscitar). Esse drama chegou ao seu clímax esperado na pessoa do Messias, Jesus.
O leitor atento já percebeu as descontinuidades entre Wright e a Confissão de fé de Westminster, por exemplo, ao não trabalhar baseado na nomenclatura “aliança das obras” e “aliança da Graça”. Entretanto, vemos também continuidade entre o bispo de Durham e os teólogo de Westminster especialmente na continuidade que há entre Israel e a Igreja.
O livro per si é indispensável para todo estudioso da teologia paulina. Com exceção do seu comentário aos Colossenses, esse é o primeiro grande livro do autor. Mas ainda sim é um aglomerado de vários artigos publicados em periódicos e afins. Por isso o livro carece um pouco de coesão e leva a várias leituras ambíguas. Mas vale a pena ressaltar o esforço do autor em manter uma coerência na literatura paulina, algo que foi abandonado por muitos estudiosos.
Jesus and the Restoration of Israel: A Critical Assessment of N. T. Wright’s Jesus and the Victory of God. Ed. Carey C. Newman. Downers Grove: InterVarsity, 1999, 320 p.
A impressionante série “Christian Origins and the Question of God” do autor N. T. Wright é o projeto de Teologia do Novo Testamento mais importante desde Bulltmann. O segundo volume da série (Jesus and the Victory of God) trata sobre o “Jesus histórico” com foco nos evangelhos sinóticos (ver o resumo nesse blog). A importância da obra de Wright está, não apenas em seu conteúdo, mas nas respostas que esse conteúdo suscita. No livro intitulado “Jesus and the Restoration of Israel”, o editor Carey Newman reúne vários eruditos para dialogar criticamente com Wright.
Esse livro não nem uma guerra evangélica contra Wright, nem um bate papo do seu fã-clube em um Café. Além de teólogos evangélicos renomados, Newman inclui eruditos que discordaram de Wright no passado, como Dale Allison, Marcus Borg e Luke Timothy Johnson. Há um ensaio do renomado erudito da Teologia Histórica – Alister McGrath – e do respeitado filósofo evangélico C. Stephen Evans.
Entre a introdução e conclusão do Newman, temos duas seções principais. A primeira parte, chamada “Avaliação” compõe a maior parte do livro (208 páginas). Inicia-se com alguns ensaios que avaliam criticamente alguns aspectos da JVG com breves críticas (Craig Blomberg, Paul R. Eddy e Darrell Bock). Outros ensaios criticam ou concordam com Wright em outros pontos ((Klyne R. Snodgrass, Craig Evans, e Allison). Temos ainda ensaios que refletem ou respondem a obra de Wright ((Richard Hays, McGrath, Stephen Evans, e Johnson).
A segunda parte, chamada de “Respostas”, consiste em uma “desacordo apreciativo” de Borg seguida de uma resposta do próprio Wright aos autores.
Wright repetidamente trata sobre a linguagem escatológica e apocalíptica de Jesus, especialmente o tema do “retorno do Exílio”. Dois ensaios tratam sobre essa questão. Em “Jesus and the Victory of Apocalyptic,” Dale Allison basicamente discorda de Wright sobre a linguagem escatológica de Jesus. Por outro lado, Craig Evans em seu ensaio “Jesus and the Continuing Exile of Israel” defende Wright em seu entendimento sobre a temática do “ainda-no-Exílio” no pensamento judaico do primeiro século.
Os ensaios de Blomberg e Eddy são muito úteis para uma visão geral da obra de Wright. Richard Hays e McGrath deram uma excelente contribuição das consequências éticas e teológicas (respectivamente) da JVG. C. Stephen Evans aborda a obra em sua raiz, ou seja, em sua metodologia, e aponta algumas falácias cometidas por Wright (que não ficaram sem tréplicas, claro). O ensaio resposta de Wright é brilhante e o autor, com uma excelente retórica, reafirma sua tese, ao mesmo tempo em que vai respondendo seus críticos.
Ainda necessitamos de uma obra como essa para o primeiro volume da série do Wright, que é fundamental para todo o projeto. Nela, o autor trata de questões mais técnicas como sua epistemologia, chamada de Realismo crítico, sua adesão a Narratologia de Greimas e seu entendimento sobre a autoridade Bíblica.
“Jesus and the Restoration of Israel” é um livro excelente tanto para encorajar o leitor numa empreitada para começar a ler Wright, como também pode desanimar leitores preguiçosos. O público que mais se beneficiará dessa obra são os estudantes de teologia (seminaristas), mas também os especialistas podem fazer bom proveito dela.
N. T. Wright é sem sombra de dúvidas um dos maiores eruditos em Novo Testamento de nossos dias. A volumosa série “Christians Origens and the Question of God”, conterá seis volumes, tentando encapsular todo o cristianismo primitivo.
O primeiro Volume (The New Testament and the People of God) trata sobre a metodologia para tal tarefa (desde epistemologia, hermenêutica, etc.), bem como o pano de fundo judaico do Novo Testamento. Esse segundo Volume – Jesus and the Victory of God (JVG) – Wright aborda a questão do “Jesus histórico” (os volumes seguintes tratarão sobre a Ressurreição, Paulo, os Evangelhos e a Igreja primitiva).
Wright divide as quase 700 páginas de conteúdo em quatorze capítulos, distribuídos em quatro partes. Na primeira parte, o autor coloca sobre a mesa os últimos cem anos de pesquisa sobre o “Jesus histórico”, focando nos últimos vinte anos, especialmente as obras de Willam Wrede e Albert Schweitzer. Wrede e seu “ceticismo consistente” são tratados no capítulo dois, enquanto Schweitzer e sua “escatologia consistente” no capítulo quatro. Wright termina essa primeira parte expondo sua própria hipótese e seus problemas (capítulo quatro).
A segunda parte expõe a mentalidade de Jesus contra o pano de fundo do Judaísmo do segundo templo. A investigação prossegue demonstrando as práticas proféticas de Jesus (capítulo cinco), a(s) história(s) do reino que Jesus contou de forma implícita ou explícita (capítulos seis a oito) e como as palavras e feitos de Jesus desafiaram e subverteram a cosmovisão judaica de época, colocando-o em conflito com as autoridades do Templo (capítulo nove). Para encerrar essa segunda parte do livro, Wright demonstra como as palavras e as práticas de Jesus respondem as principais perguntas que qualquer cosmovisão faz (capítulo dez).
A parte três investiga os propósitos e as crenças de Jesus. De acordo com Wright, Jesus acredita ser ele mesmo o Messias que iria profeticamente trazer o tão esperado fim do exílio para o povo de Israel (cp. onze), morrendo intencionalmente para derrotar o verdadeiro inimigo (o diabo) de Israel (cp. doze) e anunciava, simbolizava e corporificava o retorno de YHWH para Sião (cp. treze).
Finalmente, na parte quatro (cp. quatorze), Wright sumariza as principais vertentes de sua pesquisa. A obra por si mesma é de tirar o folego. O leitor tem a (correta) impressão que o autor leu tudo de relevante que já escreveram, e a maioria das obras periféricas sobre o assunto. Wright transita entre as fontes primárias e secundárias com maestria. O livro não passa sem críticas, mas essas críticas não cabem em meros artigos ou resenhas, mas livros inteiros – com vários autores – foi necessário para dialogar criticamente com essa obra fundamental sobre o NT.